sábado, 24 de abril de 2010

O Dom do Autismo

O Dom do Autismo é um projeto em andamento na cidade de São Vicente, São Paulo, Brasil, hospedado pela AMADEF (Associação de Mães de Deficientes) - amadef@uol.com.br, desenvolvido por mim, Manuel Vázquez Gil, mestre e doutor em psicanálise Clínica, portador de Síndrome de Asperger, pai de um menino autissta, e neófito nessas coisas de blogueiro (mas vou aprender na prática, ou não, mas vou tentar)
Tal projeto vem se tornando referência, devido a algumas peculiaridades que 12.000 horas de pesquisa e convivência me emprestaram:
1 - é desenvolvido para a capacitação de cuidadores e profissionais;
2 - considera os rituais dos autistas como funcionais e necessários para seu desenvolvimento e, portanto, não cuida da sua extinção, mas o cuidador aceita e imita esses rituais, quando eliciados pela criança;
3 - essa capacitação é feita em oficinas, com duração de oito horas médias, onde os participantes são convidados a se tornar autistas, entender seu pensamento e suas ações.
4 - o autismo é visto como um dom a ser descoberto, e não como uma doença a ser tratada.
5 - A visão é o conceito grego de autista : "aquele que se faz a si mesmo"

Publico aqui pequeno exemplo:
"Acompanhe: uma criança começa a balançar as mãos, em círculo, continuamente. O movimento dos membros é controlado pela medula espinhal, quando está automatizado, liberando o cérebro para funçõs mais nobres. O menino, então, balança as mãos em círculo, coordenando o movimento dos dois braços. Sua idade mental sugere que o cérebro está no comando do movimento, mas sua medula vai automatizar o movimento, após treino, movimento necessário para diversas tarefas futuras. Neurônios cerebrais estão fazendo sinapses, criando uma re de neuronal que se estende até à coluna vertebral. Vamos nominar os movimentos: os braços giram (coordenação motora ampla); as mãos sincronizam esses movimentos (coordenação motora fina); os olhos acompanham o movimento (coordenação visuo-motora), enviando retro-alimentação ao cérebro (percepção). Aí você vai lá e interrompe os movimentos, conforme orientação. perdeu-se a rede neuronal, ele vai precisar recomeçar tudo, se não desistir.
Mas... você não interrompe. Agacha-se diante dele e o imita. ele percebe.então, lentamente, voce muda a intensidade, ou a direção dos movimentos. Ele acompanha (imitação). Você segue nesse exercício prazeroso até que ele desista. Bate palmas, fala parabéns, elogia a performance dele. Ele sorri (compreensão verbal). Você o abraça, ele diz alguma coisa (performance verbal). A empatia está criada, entre voces, qualquer coisa agora pode ser possível. Num simples e singelo exercício, proposto por ele, todos os sete ítens do desenvolvimento infantil foram preenchidos, sem dor e sem stress. E você vai perceber que esse ritual vai diminuindo de intensidade, até que a medula assume e ele se extingue, naturalmente.

Um comentário:

  1. O Son-Rise trabalha assim também: juntamo-nos à criança em seus ismos (rituais), buscando compreendê-los e aceitá-los como pertencentes à criança. Quando a criança "faz contato", com um olhar, com um sorriso, vamos modificando sutilmente o ismo, transformando em brincadeira, e celebrando com alegria sempre que a criança participa, seja imitando, contribuindo para a brincadeira, ou sugerindo alterações. Eu também acredito nisso.

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